O CEO e o Designer da Coca-Cola entram num bar…
Manuel Carvalho, 8 de maio de 2023
Artigo de Opinião
Beberam umas cervejas e deixaram o seu objeto trabalho de parte, nessa noite.
Ao fim de uns litros bebidos, o CEO e o Designer da Coca-Cola acabam por soltar umas verdades um ao outro.
O Designer começa por dizer que, se não fosse o seu trabalho e o da sua equipa, as vendas não teriam sido tão altas. Rapidamente, o CEO, soltando um breve riso, admite que a Coca-Cola, sem campanhas ou publicidade, estaria, de qualquer das maneiras, na spotlight. Eis que o autor deste artigo está nesse bar e concorda, aplaudindo, com a opinião do CEO. Acerca-se do balcão e pede uma cerveja para o CEO. O CEO continua, dizendo que a tipografia do logo é de difícil leitura e que não tem a denominada “leitura rápida” e que conseguiu suplantar essa dificuldade pela qualidade do seu produto, defendendo que a qualidade do logo não está ao nível do produto. Em jeito de segundo round, o Designer responde que, apesar de não ser de tão fácil leitura, o logo da Coca-Cola é distinguível a larga distância e ainda diz que qualquer outra palavra escrita com aquela tipografia perderia o seu significado original para o nome da empresa que o emprega. Provou, assim, que um mau ou um bom logo é algo muito subjetivo. O autor do artigo ouve, como que paralisa durante um segundo e, após apontar com o seu indicador um par de vezes ao Designer, pergunta-lhe o que quer beber.
A Coca-Cola é o exemplo mais fácil de nos questionarmos se tem mais peso de marca à conta do seu produto ou se o seu produto tem mais peso à conta da marca que lhe dá o rótulo. Independentemente de toda a história da marca da Coca-Cola, ambos os pontos (e digo isto como cliente) são válidos. A tipografia do logo da Coca-Cola já não é só uma palavra com aquela tipografia. É o próprio logo. Reforçando o que foi escrito acima, esta tipografia é “tão logo”, que, se eu visse o meu nome com esta tipografia, a minha primeira reação seria lembrar-me da Coca-Cola e não parar para ler o que lá está escrito. Como cliente, defendo que haverão outros exemplos deste fenómeno (mas não tão “berrantes”), como a Apple ou a Google, talvez, também por ainda não terem deixado uma marca tão grande, fruto da menor longevidade, relativamente à que a Coca-Cola privilegia.
Mas uma coisa é certa: apesar destes dois pontos, neste exemplo concreto, colidirem categoricamente, se o CEO e o Designer tentassem chegar ao ponto onde estas duas questões se juntam e/ou se separam, tenho a certeza que o autor deste artigo passaria o resto da noite a pagar cervejas a ambos.
Logotipo da Coca-Cola: um Sim ou um Não?
Mariana Torres, 8 de maio de 2023
Artigo de Opinião
A imagem de marca da Coca-Cola é reconhecida mundialmente há mais de 130 anos. Contudo, nos tempos que correm, existe uma discrepância muito grande em relação à opinião da qualidade do logotipo da marca. Por tal, é importante perceber os motivos que causam esta discórdia, tendo em conta todos os fatores da atualidade.
O logotipo da Coca-Cola foi desenvolvido em 1886, por Frank Mason Robinson, sócio e amigo do fundador da marca, Dr, John Pemberton. Um logotipo criado há mais de 130 anos é, naturalmente, sujeito a diferentes adaptações consoante a evolução da tecnologia. A Imagem 1 representa a evolução do logotipo até aos dias de hoje.
![Imagem1.png](https://static.wixstatic.com/media/a55d72_c8b82035e7184ab2bccb94197caeec0c~mv2.png/v1/fill/w_599,h_241,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/Imagem1.png)
Imagem 1 - O logotipo da Coca-Cola foi desenvolvido em 1886 e até aos dias de hoje já foi alvo de várias alterações. Fonte: Inkbot Design.
Como é possível verificar na Imagem 1, desde 1900 o logotipo da Coca-Cola começou a ter fortes inspirações da fonte Spencerian Script, uma forma de caligrafia idêntica ao manuscrito.
Imagem 2 – Logotipo atual da Coca-Cola. Fonte: Google.
Um logotipo distingue-se dos restantes e dá destaque à marca que representa pela sua caligrafia, cores e presença ou não de símbolos. Ao analisar a Imagem 2 correspondente ao logotipo atual da Coca-Cola, é possível verificar que o mesmo se caracteriza por uma caligrafia manuscrita a vermelho. Na minha opinião, se uma nova marca criasse um logotipo como o da Coca-Cola, seria um projeto simples e desatualizado. Em conversa com diversos profissionais, como o designer gráfico e professor universitário Pedro Catarino e o marketeer e professor universitário Orlando Faísca, consigo entender o porquê de acharam este um logotipo mal conseguido. A opinião destes dois profissionais da área da Publicidade e do Design, fundamenta-se com o fraco processo de criação do logotipo da Coca-Cola. Contudo, o impacto que este logotipo tem a nível mundial é inegável e há que entende-lo.
Eu valorizo, sem dúvida, um logotipo que não tenha qualquer informação escrita. Um logotipo composto por um elemento visual, seja ele um símbolo ou até mesmo uma ou duas letras representativas, que não denuncie ao público o nome da marca e que ao mesmo tempo consiga ser reconhecido, como é o caso do logotipo da Apple, caracterizado pela maçã trincada, ou da Louis Vuitton, reconhecido pelas letras L e V sobrepostas.
Contudo, na minha opinião, o logotipo da Coca-Cola cumpre com o seu objetivo na medida em que, apesar de ser o nome da marca por escrito, consegue ser reconhecido mesmo quando está ilegível, como está representado na Imagem 3. O logotipo é facilmente identificado pela sua silhueta, ou até mesmo pelos C’s, o que para mim faz deste logotipo um elemento gráfico visual, como um símbolo e não só como duas palavras.
![](https://static.wixstatic.com/media/a55d72_176ef9112c1549a5a8edc84931cbefaf~mv2.png/v1/fill/w_493,h_354,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/a55d72_176ef9112c1549a5a8edc84931cbefaf~mv2.png)
Imagem 3 – O logotipo da Coca-Cola consegue ser reconhecido mesmo quando está ilegível,
Créditos: Fonte da imagem – Google; Edição – Mariana Torres